sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

XAVIER GIZARD



Mais um amigo e uma referência do meu pensamento que se perdem na presença implacável da morte. Xavier Gizard era um quadro de referência da Quaternaire France nos tempos, e já lá vão mais do que 20 anos, em que a Quaternaire Portugal debutou e iniciou a sua marcha para um projeto mais autónomo. Xavier Gizard foi das primeiras pessoas que conheci com a melhor perceção da dimensão territorial do desenvolvimento e da necessidade de acomodar essa dimensão nos processos de governação e de implementação das políticas públicas. Ficaram retidas para sempre na minha memória afetiva e na minha abordagem aos problemas europeus alguns encontros em Bruxelas através dos quais despertava para uma outra maneira de compreender as relações entre a construção europeia e as contradições da máquina comunitária.
Como Secretário-Geral da Conferência das Regiões Periféricas Marítimas e das Cidades do Arco Atlântico e mais recentemente como Secretário-Geral do FOGAR (Forum of Global Associations of Regions) constituída na Cidade do Cabo na África do Sul, em Agosto de 2007, a finura intelectual e o poder de convencimento de Xavier Gizard foram sempre colocados ao serviço da valorização da unidade territorial região e à sua adaptação aos novos rumos da globalização. Cidadão do mundo, nunca perdeu a sua fixação pelas Landes da região de Bordeaux –Aquitaine e pela ligação transfronteiriça ao País Basco e era um grande amigo de Portugal, em parte reconhecido pelo estatuto de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique que lhe foi atribuído em 2005. Ao seu entusiasmo se deve nos tempos da governação de João Cravinho como ministro do Planeamento a criação da Célula de Prospetiva da Conferência das Regiões Periféricas Marítimas, instalada no Porto acolhida pela CCDRN, à qual se juntou a competência de Rui Azevedo. Os amigos Elisa Babo, Rui Azevedo e José Maria Cabral Ferreira privaram mais regularmente com a sua simpatia, a sua finura de espírito, a sua profunda abertura cultural e à diversidade europeia e têm certamente uma ideia mais profunda da perda que representa o seu desaparecimento.
Faço minhas as palavras de Jean-Yves Le Drian, atual presidente em exercício da CRPM: “Porté par ses convictions sans faille et sa persévérance, Xavier Gizard savait se faire entendre des plus hauts responsables européens pour plaider la cause des régions. À l’heure où l’Europe traverse des heures difficiles, son esprit d’anticipation et sa clairvoyance nous manqueront”(Sempre levado pelas suas convicções inabaláveis e pela sua perseverança, Xavier Gizard sabia fazer-se ouvir junto dos mais altos responsáveis europeus para defender a causa das regiões. Num momento em que a Europa atravessa horas difíceis, sentiremos muito a falta do seu espírito de antecipação e da sua clarividência).

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